terça-feira, 22 de setembro de 2015

Filme "O Pequeno Príncipe"



              Está em cartaz a mais recente versão cinematográfica da história de O Pequeno Príncipe, com direção do cineasta de animações americano, Mark Osborne. O filme, desde o seu início, se apresenta sem intenções de ser uma cópia fiel da conhecida história de Saint-Exupéry. Tem como seu maior trunfo, se valer da história já quase se tornada de domínio público mundialmente, e aplicá-la ao cotidiano de vida moderna, ilustrando que tipo de adulto temos escolhido nos tornar, e a vida adulta que temos levado sem muita consciência: com um cotidiano opressivo, ocupado, compartimentado, isolado e pouco preocupado com as relações humanas.
                O Pequeno Príncipe de Mark Osborne tem uma história para crianças e adultos: para os adultos, é uma ilustração da vida que tem levado e podem ainda se recusar a levar; para as crianças, é um filme sobre a vida que podem escolher não levar. O seu tema de maior destaque reside em uma frase dita repetidamente no filme, que expressa algo mais ou menos com esta mensagem: não há problema algum em se tornar um adulto, o problema está no tipo de adulto que escolhemos ser; e merece atenção séria o adulto que nos tornamos.
              Não muito diferentemente da história clássica do livro, que prioriza o tema do cuidado e do cultivo dos aspectos mais essenciais de uma vida humana, a história do filme apresenta na vida moderna o que tem feito essa ausência de cuidado e atenção ao humano. A película expõe como, mais e mais, as pessoas estão caminhando para levar uma vida que, quase exclusivamente, é votada a cumprir funções mecânicas, e menos, a conviver com outras pessoas de forma não ligada às relações burocráticas, desta forma se tornando pessoas atarefadas e pouco atentas a seus aspectos humanos, e aos aspectos humanos em conjunto. 
                 Essa temática é contada através da história de preparação de uma menininha para entrar em um disputado e renomado colégio, e os esforços de sua mãe para que a empresa seja bem-sucedida. Somos apresentados a duas personagens muito atarefadas e que diariamente obedecem rígidos horários para cumprir estritamente as mais básicas ações cotidianas, como dormir, escovar os dentes, tomar banho, fazer as refeições e trabalhar (no caso da menininha, estudar). São as duas, cópias fiéis de um corpo de pessoas que compõem uma realidade burocrata, portanto, entre elas e entre as demais pessoas de seu bairro e meio de convivência, agem de forma igual, se vestem iguais, fazem as mesmas coisas no mesmo horário e da mesma ordem e do mesmo jeito todos os dias.Vivem regidas por um quadro de tarefas e atividades a desempenhar, tal qual aquele traçado pela mãe para a filha, e se dedicando ao cumprimento de tarefas, sem notar as pessoas e sem ter relações de amizade com elas.
                          Nessa realidade fechada, escura e cinza, como a cor dos roupa e dos objetos dos burocratas, entretanto, surge uma figura fora desse ritmo social, que menos pelo motivo de já ser idoso (aposentado), que pelo o de ter escolhido viver de modo diferente a vida que todos levam, rompe a ordem escura, monótona e chata da vida social. O senhorzinho de longas barbas brancas reside em uma casa vizinha à das meninas, com formato diferente, com cores alegres, livros e cheia de artefatos que ele mesmo criou. Sua realidade é viva, clara e o tempo todo criativa, quase nada serva de tarefas prescritas. Com a sua aparição, todo um cotidiano burocrata é desconstruído, e tem realidade uma vida diferente, com novas verdades.
                     Certo dia, testando, esse velhinho, decolar em um avião a partir de seu jardim, atinge a hélice, o muro da casa ao lado e, acaba, literalmente, quebrando o quadro de tarefas desenhado pela mãe à filha, rompendo aquela vida rigidamente ordenada. A ocasião caótica acaba também proporcionando de forma abrupta o encontro da garotinha atarefada e asfixiada em suas mil atividades e horários diários, com a casa e vida diferente do velhinho. Desse momento adiante, a vida da criança é devolvida à garotinha pelo velhinho, que passa a compartilhar com ela sua casa e também uma história, folha a folha, quase dia a dia, de certo principezinho que habitava um planeta diferente, e devotava seu tempo a cuidar de uma rosa, podar baobás e conversar com uma amiga raposa. É a história de um serzinho que levava uma vida bastante incomum da que as pessoas comuns levavam, devoto a um superior muito diferente, desempenhando atividades muito diferente e relacionando-se com seus amigos também de forma muito diferente.
               Encantada pela história do principezinho, a menininha se decide que não apenas continuaria levando para sempre a vida que a mãe lhe prescrevera no quadro, como também, urgia lembrar um certo adulto com a fisionomia do pequeno príncipe, que ele já houvera sido príncipe um dia, tivera um planeta e devotava-se a uma rosa. A fisionomia do pequeno príncipe enxergada no adulto pela menina, é um recurso para assinalar uma condição de vida dos homens passada - no filme, a condição de vida antes de maculada pelo adulto apático da vida moderna. Os esforços da criança para fazer o adulto recordar de um passado diferente, em que já fora príncipe, serviu uma rosa e cultivava a amizade de uma raposa, mostra como, a começar pelo cargo simbólico de príncipe, sua existência é na verdade dotada de um sentido mais nobre e maior que as ocupações banais do dia a dia. 
                  Em função de ter apresentado a história de Saint-Exupéry imersa no cotidiano atarefado da vida moderna, de forma a clamar por uma convocação dos adultos e crianças para uma condição de vida que não se restringe às pedestres ocupações diárias, o filme de Mark Osborne é grandioso em conteúdo humano. A sua opção por apresentar esse conteúdo através de recursos e cenas imagéticas ternas e muito significativas, por fim, torna o seu filme uma das animações mais belas já realizadas. 

2 comentários:

Márcia disse...

Oi filha,

Depois de ler seu texto me deu uma vontade de ver o filme! Ia deixar pra depois, mas acho que vou ao cinema ver dublado mesmo.

Abraço apertado
Mamãe

Bruna Caixeta disse...

Oi, mami!

Fico muito feliz de saber que você, a partir desta postagem, sentiu vontade de ver o filme. Que bom! Vá ver mesmo; é uma fofurinha.

Eu também o vi dublado. Aliás, nem sei se há no Brasil "O Pequeno Príncipe" legendado. Como, a princípio, "O Pequeno Príncipe" é uma história para crianças, acredito que os nossos cinemas só disponibilizarão mesmo a versão dublada. Mas, mesmo dublado, eu acho que vale ainda assim. Afinal, a primeira riqueza do cinema deve vir em imagens (por isso é cinema, e não outra coisa, não é?!) - e, no "O Pequeno Príncipe" têm ricas e lindas imagens.

Bom filme! Obrigada pela visita!
Abração!