sábado, 28 de fevereiro de 2015

Sobre as crianças

VI
 
- Pois bem - começou o príncipe -, todas as senhoras estão olhando para mim com tamanha curiosidade que é só eu não as satisfazer e provavelmente ficarão zangadas comigo. Não, eu estou brincando - acrescentou depressa com um sorriso. - Lá... lá havia apenas crianças, e o tempo todo eu estava lá com as crianças, apenas com as crianças. Eram crianças daquela aldeia, toda a tropa que estudava na escola. Não é que eu ensinasse a elas; oh, não, para isso havia lá um mestre-escola, Julie Tibot; eu talvez até ensinasse a elas, mas eu estava mais com elas, e todos os meus quatro anos se passaram assim. Eu não precisava de mais nada. Eu falava tudo com elas, não escondia nada delas. Seus pais e familiares ficaram zangados comigo porque, no fim das contas, as crianças não podiam passar sem mim e estavam sempre aglomeradas ao meu redor, e o mestre-escola acabou virando o meu primeiro inimigo por causa das crianças. Até Schneider me exprobara. De que eles tinham tanto medo? Pode-se dizer tudo a uma criança - tudo; sempre me deixou perplexo a ideia de como os grandes conhecem mal as crianças, os pais e as mães conhecem mal até os seus próprios filhos. Não se deve esconder nada das crianças sob o pretexto de que são pequenas e ainda é cedo para tomarem conhecimento. Que ideia triste e infeliz! E como as próprias crianças reparam direitinho que os pais acham que elas são pequenas demais e não entendem nada, ao passo que elas compreendem tudo. Os grandes não sabem que até nos assuntos mais difíceis a criança pode dar uma sugestão sumamente importante. Oh, Deus, quando olha para você esse passarinho lindo, crédulo e feliz, você sente vergonha de enganá-lo! Eu as chamo de passarinhos porque no mundo não existe nada melhor que um passarinho. Aliás, todos na aldeia ficaram mais zangados comigo por um incidente... Mas Tibot simplesmente tinha inveja de mim; a princípio ele não parava de balançar a cabeça e de surpreender-se ao ver como as crianças entendiam tudo o que eu falava e quase nada do que ele falava, e depois passou a zombar de mim quando eu lhe disse que nós dois não ensinávamos nada a elas e que elas ainda iriam nos ensinar. E como ele pôde ter inveja de mim e me caluniar quando ele mesmo vivia ao lado das crianças! Por intermédio das crianças cura-se a alma... Lá havia um doente no estabelecimento de Schneider, um homem muito infeliz. Era uma infelicidade tão terrível que dificilmente pode haver outra igual. Ele havia sido enviado a tratamento de loucura; a meu ver não era louco, apenas sofria terrivelmente - era essa toda a sua doença. Se as senhoras soubessem o que as nossas crianças acabaram representando para ele... Mas sobre esse doente eu lhes conto depois; vou contar agora como tudo isso começou. A princípio as crianças não gostaram de mim. Eu era muito grande, eu sempre fui desajeitado; eu sei que sou pateta... finalmente havia o fato de eu ser estrangeiro. De início as crianças riam de mim, depois até pedra passaram a me atirar quando viram que eu havia beijado Marie. Eu a beijei apenas uma vez... Não, não riam - o príncipe se apressou em deter as risotas das suas ouvintes -, aí não havia nada de amor. Se as senhoras soubessem que criatura infeliz era aquela, as senhoras mesmas sentiriam muita pena dela como eu senti. Ela era da nossa aldeia. A mãe era uma velha velha, e a casinhola delas, totalmente vetusta, de duas janelas, tinha uma das janelas isolada por um tabique com permissão do chefe da aldeia; dessa janela permitiam que ela vendesse cadarços, linha, tabaco, sabão, tudo a preço de centavo, e disso ela comia. Era doente, tinha as pernas inchadas de tal forma que estava sempre sentada no mesmo lugar. Marie era sua filha, de uns vinte anos, fraca e magrinha; estava tuberculosa há muito tempo mas continuava de casa em casa fazendo trabalho pesado como diarista - lavava assoalhos, roupa branca, varria os pátios, recolhia o gado. Um commis (amanuense) francês que passava por lá a seduziu e a levou consigo, mas uma semana depois a largou na estrada sozinha e se foi em silêncio. Ela voltou para casa mendigando, toda suja, toda desgrenhada, com os sapatos em frangalhos; andou uma semana inteira a pé, dormindo no campo, e pegou uma gripe muito forte; os pés estavam feridos, as mãos inchadas, gretadas. Aliás, antes ela já não era bonita; tinha só os olhos serenos, bondosos, inocentes. Era calada ao extremo. Certa vez, ainda antes desse ocorrido, estava trabalhando e de repente começou a cantar, e eu me lembro de que todos ficaram admirados e passaram a rir: "Marie está cantando! Como? Marie começou a cantar!" - e ela ficou terrivelmente confusa e depois calou-se para sempre. Naquela época ainda a afagavam, mas quando ela voltou doente e destroçada, não houve em ninguém qualquer compaixão por ela! Como eles são cruéis com essas coisas! Como são duras as noções que eles têm dessas coisas! A mãe foi a primeira a recebê-la com raiva e desprezo: "Agora tu estás desonrada!". Ela foi a primeira que a expôs à vergonha: quando, na aldeia, ouviram falar que Marie tinha retornado, todos correram para vê-la, e quase toda a aldeia correu para a casinhola da velha: velhos, crianças, mulheres, moças, todos, todos numa multidão muito apressada, ávida. Marie estava deitada no chão, aos pés da velha, faminta, em frangalhos e chorando. Quando todos irromperam, ela se cobriu com os cabelos desgrenhados e assim ficou de cabeça para baixo colada ao chão. Todos ao redor olhavam para ela como se olha para um réptil; os velhos a censuravam e insultavam, os jovens chegavam até a rir, as mulheres a insultavam, censuravam, olhavam com um desprezo de quem olha para uma aranha. A mãe permitiu tudo isso, estava ali sentada ao lado, balançando a cabeça e aprovando. Naquela época a mãe já estava muito doente e quase morrendo; dois meses depois ela realmente morreu; sabia que estava morrendo mas ainda assim nem pensou em fazer as pazes com a filha até a morte, nem chegava a falar com ela uma só palavra, obrigava-a a dormir no paiol de feno, inclusive quase não a alimentava. Ela precisava de pôr frequentemente seus pés doentes na água morna; todos os dias Marie lhe lavava os pés e tomava conta dela; ela recebia todos esses serviços calada e não lhe dizia uma só palavra de carinho. Marie suportou tudo e, quando depois eu a conheci, observei que ela mesma aprovava tudo aquilo, e se considerava a si mesma o último dos répteis. Quando a mãe caiu definitivamente de cama, as velhas da aldeia passaram a tomar conta dela, uma de cada vez, como lá é praxe. Então deixaram totalmente de alimentar Marie. Enquanto isso todos a perseguiam na aldeia e nem trabalho queriam lhe dar como faziam antes. Todos cuspiam literalmente nela, e até os homens deixaram de considerá-la mulher, diziam-lhe toda sorte de indecências. Às vezes, muito raramente, quando os beberrões enchiam a cara aos domingos, para se divertir lançavam migalhas para ela, assim, diretamente no chão; Marie as apanhava em silêncio. A essa altura, ela já começara a escarrar sangue. Por último, os seus farrapos se transformaram completamente em molambos, e de tal forma que dava vergonha aparecer na aldeia; desde que voltara ela andava descalça. Foi então que, particularmente as crianças, todo o batalhão - quarenta e poucos alunos da escola -, passaram a provocá-la e até a atirar porcarias nela. Ela pediu a um pastor para limpar as suas vacas mas o pastor a escorraçou. Depois, por conta própria, sem permissão, ela passou a sair com o rebanho da casa o dia inteiro. Uma vez que ela trazia muita vantagem para o pastor e ele percebeu isso, deixou de escorraçá-la e às vezes lhe dava até os restos da sua refeição, queijo e pão. Ele considerava isso uma grande caridade de sua parte. Quando, porém, a mãe morreu, o pastor não sentiu acanhamento de infamá-la na igreja perante todos os presentes. Marie estava em pé ao lado do caixão do jeito que havia chegado, desgrenhada e chorando. Apareceu muita gente para vê-la chorar e acompanhar o caixão; então o pastor - ele ainda era jovem e toda a sua ambição era tornar-se um grande pregador - dirigiu-se a todos e apontou para Marie. "Eis a causa da morte dessa respeitável mulher" (e não era verdade, porque a outra já estava doente há dois anos), "aí está ela diante dos senhores sem coragem de fitá-los porque para ela aponta o dedo de Deus; ei-la descalça e desgrenhada - exemplo para aqueles que perdem a virtude! Quem é ela? É a filha dela!", e continuou batendo na mesma tecla. Imaginem que quase todos gostaram dessa baixeza, porém... aí se deu uma coisa extraordinária; aí interferiram as crianças, porque a essa altura todas as crianças já estavam do meu lado e passaram a gostar de Marie. Ouçam o que aconteceu. Deu-me vontade de fazer alguma coisa para Marie; era muito necessário dar dinheiro a ela, mas lá eu nunca tive um copeque. Eu tinha um pequeno alfinete de brilhante, eu o vendi a um revendedor: ele andava de aldeia em aldeia negociando com roupa velha. Ele me deu oito francos, mas o alfinete valia seguramente quarenta. Tentei por muito tempo encontrar Marie sozinha; finalmente nós nos encontramos além da aldeia, no sopé da montanha, em uma senda lateral que dava para a montanha, atrás de uma árvore. Nessa ocasião eu lhe dei oito francos e disse para ela conservá-los porque eu já não teria mais dinheiro, depois lhe dei um beijo e lhe disse para não pensar que eu tivesse alguma má intenção e que a estava beijando não porque estivesse apaixonado por ela, mas porque tinha muita pena dela e desde o início não a considerava culpada de coisa nenhuma, apenas a achava infeliz. Tive muita vontade de consolá-la naquele instante e lhe assegurar que ela não devia se considerar tão baixa diante de todos, mas parece que ela não entendeu. Agora eu o percebo, embora ela tenha passado todo o tempo quase calada e postada à minha frente com os olhos embotados e uma terrível vergonha. Quando eu terminei, ela me beijou a mão e no mesmo instante eu lhe tomei a mão e quis beijá-la mas ela a puxou rapidamente. Súbito as crianças olharam para nós, toda uma multidão; depois fiquei sabendo que elas vinham me espionando há muito tempo. Começaram a assobiar, a bater palmas e a rir, e Marie precipitou-se a correr. Eu ia querendo falar, mas as crianças passaram a me atirar pedras. No mesmo dia todos estavam sabendo, toda a aldeia; tudo desabou mais uma vez sobre Marie: passaram a gostar ainda menos dela. Ouvi dizer até que quiseram julgá-la e condená-la, mas, graças a Deus, a coisa acabou passando; em compensação, as crianças começaram a não lhe dar passagem, provocavam-na mais do que antes, jogavam porcaria nela, acossavam-na, ela fugia com seu peito fraco, sufocada, e elas atrás gritando, insultando. Uma vez eu até me lancei para brigar com elas. Depois passei a conversar com elas; conversava cada dia, quando podia. Às vezes elas paravam e ouviam, mesmo que ainda insultassem. Contei a elas o quanto Marie era infeliz; logo elas deixaram de insultá-la e passaram a afastar-se em silêncio. Pouco a pouco passamos a conversar e eu nada escondia delas; contava-lhes tudo. Elas ouviam com muita curiosidade e logo começaram a ter pena de Marie. Algumas passaram a saudá-la carinhosamente quando a encontravam; lá é hábito as pessoas fazerem reverência e dizerem "Bom dia" quando se encontram, sejam conhecidas ou não. Imagino como Marie ficou surpresa. Uma vez, duas menininhas arranjaram comida e levaram para ela, entregaram-lhe, vieram me procurar e me contaram. Disseram que Marie havia chorado e que elas agora gostavam muito dela. Logo todas as crianças passaram a gostar dela e, ao mesmo tempo, a gostar de repente também de mim. Passaram a me procurar frequentemente e sempre pediam que eu lhes contasse histórias; acho que eu narrava bem, porque elas gostavam muito de me ouvir. Posteriormente eu estudava e lia só para contar depois a elas, e durante todos os três anos posteriores eu contei histórias a elas. Quando, mais tarde, todos me acusaram - inclusive Schneider -, perguntando por que eu conversava com elas como se conversa com gente grande e não escondia nada delas, eu lhes respondi que era uma vergonha mentir para crianças, que elas já sabiam mesmo de tudo, por mais que se escondesse delas a realidade, e elas acabariam tomando conhecimento, e ainda por cima de forma indecente, ao passo que de minha parte ficavam sabendo das coisas de modo não indecente. Bastava apenas que cada um se lembrasse de que já havia sido criança. Eles não estavam de acordo... Eu beijei Marie ainda duas semanas antes da morte da mãe; quando o pastor fez aquele sermão, todas as crianças já estavam do meu lado. No mesmo instante eu contei a elas e interpretei a atitude do pastor; todas ficaram com raiva dele e algumas a tal ponto que até lhe atiraram pedras e lhe quebraram os óculos. Eu as detive porque isso já era mal; no entanto, no mesmo instante todos ficaram sabendo na aldeia e foi aí que começaram a me acusar de que eu havia estragado as crianças. Depois todos souberam que as crianças gostavam de Marie e ficaram terrivelmente assustados; no entanto Marie já estava feliz. Proibiram as crianças até de encontrar-se com ela, mas elas fugiam às escondidas para o rebanho dela, bastante longe, quase a meia versa da aldeia; umas levavam guloseimas para ela, outras apenas a procuravam para abraçá-la, beijá-la e dizer: "Je vous aime, Marie!" - e depois voltar correndo num abrir e fechar de olhos. Marie por pouco não enlouquecia de tamanha e instantânea felicidade; ela nem chegara a sonhar com tal coisa; ficava acanhada e alegre e, o mais importante, as crianças queriam, principalmente as meninas, correr para ela e lhe dizer que gostavam muito dela e falavam muito a seu respeito. Elas lhe contaram que eu lhes havia contado tudo e que agora gostavam e tinham pena dela, e assim seria sempre. Depois correram para mim e com suas carinhas alegres e azafamadas me transmitiram que acabavam de ver Marie e que Marie me mandava uma reverência. Às noitinhas eu ia à cachoeira; lá havia um lugar completamente fechado ao lado da aldeia e rodeado de álamos; para lá elas corriam às tardinhas para a minha imensa satisfação em meu amor por Marie, e foi nessa única coisa que eu as enganei durante toda a minha vida lá. Eu não as dissuadi de que não amava Marie, isto é, de que não estava apaixonado por ela, de que sentia apenas muita compaixão por ela; tudo me fez ver que elas queria mais que fosse assim, da maneira como elas mesmas haviam imaginado e decidido entre si, por isso calavam e fingiam que haviam adivinhado. A que ponto aqueles pequenos corações eram delicados e ternos: aliás, elas achavam impossível que o seu bom Leon gostasse tanto de Marie, pois Marie andava muito mal vestida e descalça. Imaginem que elas lhe arranjaram sapatos, meias, roupa branca e até um vestido qualquer; que jeito elas deram eu não entendo; todo o bando trabalhou. Quando eu as interroguei, elas apenas riram alegremente, enquanto as meninas batiam palminhas e me davam beijos. Às vezes eu também ia às escondidas me encontrar com Marie. Ela já estava muito doente e mal andava; por fim, deixou inteiramente de servir ao pastor, mas ainda assim saía com o gado todas as manhãs. Sentava-se ao lado; lá, ao pé de um rochedo escarpado, quase reto, havia uma saliência; ela se sentava bem no canto, escondida de todos, sobre a pedra, e passava o dia inteiro sentada quase sem se mover, do amanhecer à hora em que o rebanho começava a voltar. Ela já estava tão fraca por causa da tísica que passava a maior parte do tempo sentada, de olhos fechados, com a cabeça encostada na rocha, cochilando, respirando com dificuldade; o rosto estava magro como o de um esqueleto, o suor brotava na testa e nas têmporas. Era assim que eu sempre a encontrava. Eu dava uma passada de um minuto por lá e também não queria ser visto. Mal eu aparecia, Marie estremecia imediatamente, abria os olhos e se precipitava a me beijar as mãos. Eu já não as retirava mais porque para ela isso era uma felicidade; enquanto eu permanecia sentado, ela tremia e chorava sem parar; é verdade que algumas vezes ela ensaiou falar, mas era difícil até compreendê-la. Ela ficava como louca, em terrível agitação e êxtase. Às vezes as crianças me acompanhavam. Nessas ocasiões costumavam ficar perto e passavam a nos proteger contra algo ou contra alguém, e para elas isto era extraordinariamente agradável. Quando nós saíamos Marie tornava a ficar só, imóvel como antes, de olhos fechados e cabeça encostada na rocha; talvez sonhasse com alguma coisa. Certa vez ela já não pôde sair de manhã para acompanhar o rebanho e permaneceu em sua casa vazia. As crianças souberam no mesmo instante e quase todas foram visitá-la nesse dia. Ela estava deitada em sua cama sozinha, sozinha. Durante dois dias só as crianças cuidaram dela, corriam para lá e se alternavam, mas depois que na aldeia ficaram sabendo que Marie já estava de fato morrendo, as velhas de lá passaram a visitá-la, a fazer plantão. Na aldeia, parece, tiveram pena de Marie, pelo menos já não detinham nem repreendiam as crianças como antes. Marie esteve o tempo todo dormindo, seu sono era intranquilo: tossia que era um horror. As velhas escorraçavam as crianças, mas estas corriam até a janela, às vezes apenas por um instante só para dizer: "Bonjour, notre bonne Marie". E ela, mal as via ou ouvia, cobria-se de ânimo e no mesmo instante, sem dar ouvidos às velhas, soerguia-se sobre os cotovelos, fazia sinal de cabeça para elas, agradecia. Elas continuavam a lhe trazer guloseimas, mas ela quase não comia. Graças às crianças, eu lhes asseguro, ela morreu quase feliz. Graças a elas, ela esqueceu sua pobreza negra, recebeu delas uma espécie de perdão porque até o fim se considerou uma grande criminosa. Como passarinhos, elas batiam suas asinhas à janela dela e gritavam todas as manhãs: "Nous t'aimons, Marie". Logo depois ela morreu. Eu achava que ela iria viver bem mais. Na véspera de sua morte, ao pôr-do-sol, fui à casa dela; parece que ela me reconheceu, e eu lhe apertei a mão pela última vez; como sua mão estava seca! E na manhã seguinte aparecem de repente e me dizem que Marie tinha morrido. Aí não foi possível segurar as crianças; elas encheram todo o caixão dela de flores e puseram na cabeça uma coroa. Na igreja o pastor já não denegriu a morta, e alíás havia muito pouca gente no enterro, apareceram apenas algumas pessoas a título de curiosidade; mas quando chegou a hora de levar o caixão, as crianças se precipitaram todas de uma vez para levá-lo elas mesmas. Uma vez que elas mesmas não podiam levá-lo, ajudaram-nas, todas correram atrás do caixão e todas choraram. Desde então o túmulo de Marie foi constantemente reverenciado pelas crianças: cada ano elas o cobriam de flores, plantavam rosas ao seu redor. [...]
 
DOSTOIÉVSKI, Fiódor. O idiota. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2002. pp. 91-98. 

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