sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Sobre a Dilma, o PT e as eleições

         Para os meus amigos próximos e abertos à confissão de meus posicionamentos políticos, não é segredo que, desde os meus 16 anos, idade que comecei a votar, sempre apoiei o PT nas eleições. Primeiro o apoio se deu simplesmente como forma de recusa da permanência de um governo aos moldes do FHC, fechado em si e aos interesses de uma elite, quase sempre paulistana. Com o passar dos anos, e o desenvolvimento de uma maturidade ainda em formação para as questões políticas brasileiras, apoiei o PT pelo o que comecei a enxergar em sua política de iniciativas desenvolvimentistas e inclusivas. 
         Tal tipo de política procurava, sobretudo, acima, ou apesar dos escândalos políticos - muito comuns a todos os governos que ocuparam o Senado brasileiro, no entanto, pintados com feições inéditas no mandato Lula e Dilma -, criar condições no âmbito econômico e da educação, para a inclusão de outros estados e brasileiros na dinâmica nacional. O partido, em meu entender, deu o primeiro passo, e tem se posto a caminhar na direção de diminuir a distância, no quesito desenvolvimento, entre São Paulo e o resto do Brasil. Tem aberto oportunidades para o desenrolar da pesquisa nas universidades; tem previsto a inserção de um público mais plural (isto é, menos centro do Brasil e somente produto das instituições de ensino privado) tanto nas faculdades como nos mercados nacionais, além de trabalhar para a erradicação da pobreza absoluta do país, que hoje, praticamente, mesmo nas favelas, não se dá notícia como antes. Em síntese, apesar de seus defeitos e suas limitações, há delineado na política petista um nítido projeto de atenção ao desenvolvimento humano e de construção de uma civilização.
         A política petista de Lula e Dilma deixa notório, e notório com facilidade, que trabalha em frentes que intentam colocar o Brasil como um país a intercambiar com os países hoje centros da política e economia mundiais (Estados Unidos e muitos países europeus). Age com essa orientação tanto no que diz respeito às iniciativas de vender produtos brasileiros no comércio mundial, como de formar ou fornecer intelectuais e trabalhadores com competência para ombrear os mesmos dos países desenvolvidos. Hoje o Brasil negocia com as potências mundiais, não mais apenas se deixa explorar e conduzir pelas metrópoles mundiais. Hoje seus pesquisadores e profissionais de empresas vendem suas ideias; não mais só as importamos do exterior. Como país, e como nação, acredito que seja essa a posição no mundo que é digna de se ter; e que, somente através dela, nasce as mais fecundas condições do desenvolvimento interno de um país. Até hoje, só a vi aventada, em prática e manifestação, nos governos de Lula e Dilma. 
          Estamos longe de nos chamar de nação parte do primeiro mundo, em uma palavra, de uma legítima civilização? Sem dúvidas que sim, mas, ao menos, pela primeira vez, admitamos em fidelidade aos fatos, sobretudo postos em comparação ao Brasil antes do PT, conseguimos ver no horizonte os sinais dessa conquista.
         Carlos Berriel, meu muito estimado professor e orientador, docente do departamento de Teoria e História Literária da Unicamp, formado em Ciências Políticas e Sociais, há alguns dias atrás, ajudava a fomentar uma discussão sobre as eleições, em um e-mail coletivo que circulou na minha caixa de entrada e no círculo de seus orientandos, amigos e colegas de trabalho, por ocasião da partilha que uma das pessoas fez do texto "Há um novo Collor na praça". Em geral, os e-mails comentadores da matéria vieram apoiando o PT e falando mal do governo Dilma, outros até manifestaram seu favoritismo pela Marina Silva e sua posição contrária ao PT e à Dilma. Com todo respeito, seriedade e conhecimento profundo do assunto, Berriel tomou a palavra nessas discussões e proferiu uma defesa de Dilma e também uma consideração bastante sensata e muito suficiente do PT, de Lula, de Dilma, de Marina Silva e outras questões tangenciadas a essas personalidades e às suas políticas. Muito partidária de sua opinião, menos por estima ao professor do que pela mesma visão de mundo, julguei por bem divulgar a resposta de Carlos Berriel ao grupo, aqui no blogue, por considerá-la uma viva fonte de esclarecimento e reconhecimento do que cabe a cada um desses políticos e às suas políticas. 
        Convido-vos, todos, independentemente de serem adeptos (ou não) do PT, ou dos governos de Lula e Dilma, a conhecer detida e imparcialmente as palavras do Berriel. E aqui, por fim, não deixo de prestar a ele um agradecimento especial pela sua fala, responsável, mais uma vez de sempre, a oferecer um elemento a mais para a construção de minha opinião sobre política - e muitas outras coisas que dizem respeito à formação de uma civilização e de pessoas. Sou imensamente grata a ele, pela mente de juízo arguto.
             
Caros amigos,
vou discordar do meu muito prezado colega Wanderley Geraldi.
Creio que a Dilma representou um extraordinário avanço para o PT, sendo uma enorme força quando o partido ficou atordoado durante o primeiro mandato do Lula no episódio conhecido como mensalão. Ganhando espaço interno na época, Dilma foi capaz de dar sentido e dimensão para o pré-sal, que ia ser vendido de graça num leilão que ela num gesto quase suicida suspendeu. Esse gesto deu um patrimônio ao país, e mobilizou e mobiliza contra ela a fúria do grande capital. Gradativamente ela foi dirigindo o governo para uma perspectiva desenvolvimentista e nacionalista - coisa que não era vista com bons olhos por muitos petistas, muitos dos quais agora ex-petistas. Marina Silva foi expelida aí, mais pela ação da Dilma. Esse programa nacionalista-desenvolvimentista salvou o país de muitas coisa, do naufrágio do neoliberalismo inclusive. Deu ao país a perspectiva de ser uma potência capaz de garantira sua autonomia econômica e política, e de quebra proteger países vizinhos, como a Bolívia. Quantas semanas Evo Morales permanecerá no poder sem o PT? O que acontecerá ao Equador, Argentina, etc.? Dilma tem um papel nisso e, claro, mais ainda o Lula. Erros ela os tem, mas são pequenos diante dos muitos acertos. O meu espanto se deve ao quanto ela fez, ou ajudou a fazer, diante de tudo que é preciso fazer para construirmos uma civilização. Trabalhou no feio mundo real, porque era o mundo real e onde as coisas reais acontecem. 
Voto na Dilma com a sensação de ter um raro privilégio.
Abraços a todos,
Carlos Berriel

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