domingo, 21 de setembro de 2014

Do Novo Mundo

               Ontem à tarde, assistindo ao canal Arte I, ao programa "Arte 1 In Concert", tive meu primeiro contato com duas célebres apresentações: a regência do austríaco Hebert von Karajan, e a sinfonia "Do Novo Mundo", de Antonín Dvořák, compositor da Boêmia (atual República Tcheca) atuante no fim do século XIX. O canal exibiu um vídeo raro e restrito de um concerto no qual Karajan, junto à Orquestra Filarmônica de Berlim, performam a mais famosa obra do compositor tcheco, a "Sinfonia n. 9 em ' Mi menor', "From the New World", Op. 95 (Symfonie č. 9 e moll „Z nového světa“).
               Karajan foi um dos maestros de maior destaque no período do pós-guerra, e esteve à frente da Orquestra Filarmônica de Berlim (Berliner Philharmonikerdurante 27 anos. No período de sua batuta, a Filarmônica obteve renome pelas apresentações de concertos de Debussy, Ravel e Sibelius, bem como de Brahms e Beethoven. Ainda, fazendo incursões pelo catálogo da música erudita tcheca, por volta de 1930, Karajan trouxe para o repertório da orquestra alemã, a música de compositores tchecos, entre elas, a consagrada sinfonia de Dvořák, gravando-a com a Filarmônica pela primeira vez em 1940.         
           A "Sinfonia número 9" de Antonín Dvořák foi composta em 1893, e estreada no Carnegie Hall (Nova Iorque) no mesmo ano, celebrando o aniversário da conquista do Novo Mundo. Nesse ano, o compositor residia em Nova Iorque e era diretor do Conservatório Nacional de Música da América (National Conservatory of Music of America). Também por essa época, e durante todo o período de estada nos Estados Unidos, Dvořák esteve interessado na música nativa americana e em seu "espírito afro-americano". Ele chegou a declarar que estava convencido de que o futuro da música dos Estados Unidos deveria se fundar no que chamavam de "melodias dos negros" - em suas palavras, retiradas de um texto de Peter Gutmann: "I am convinced that the future music of this country must be founded on what are called Negro melodies. These can be the foundation of a serious and original school of composition, to be developed in the United States. These beautiful and varied themes are the product of the soil. They are the folk songs of America and your composers must turn to them". 
               Especialmente, a Sinfonia número 9 de Dvořák recebeu influências da música negra americana, como também da música indiana: "I have not actually used any of the [Native American] melodies. I have simply written original themes embodying the peculiarities of the Indian music, and, using these themes as subjects, have developed them with all the resources of modern rhythms, counterpoint, and orchestral colour", confidenciou Dvořák. É dito ainda no script do programa Arte 1 - referência de não tanta autoridade e garantia -, que essa sinfonia foi composta pelo o autor tcheco tanto para expressar sua admiração por Nova Iorque e pelo "Novo Mundo", quanto para manifestar sua saudade dos costumes e da terra natal; por essa razão, seria a sinfonia toda permeada por tons nostálgicos e também de vibração, anunciação. 
             É mesmo parte de sua constituição total, lampejos de nostalgia imiscuídos a lampejos alegres, vivazes. Torna-se até peculiaridade da sinfonia, e faz a sua beleza, essa sobreposição de ritmos. Tal tônica será representativa do estilo de Antonín Dvořák. Seu estilo, que tanto representou seu distintivo, como foi o objeto de sua aclamação, consistiu na maestria em conjugar o idioma nacional com a tradição sinfônica, integrando influências populares e nativas.
           Sem conseguir ter acesso online à completa performance de "Do Novo Mundo", com a Orquestra Filarmônica de Berlim sob a regência de Karajan - a que assisti ontem no canal Arte 1 -, selecionei uma parte (ou o que chamam, um "movimento") da sinfonia, de outra apresentação, mais tardia, com o mesmo Karajan. A parte selecionada compõe o "Segundo Movimento" da famosa sinfonia, cujo estilo é o Largo e no qual a execução é tranquila e doce, destacando-se instrumentos como o corne-inglês, a flauta e o oboé. 
           No entanto, sem deixar de apresentar mesmo que de forma breve (impingida pelas limitações), o concerto esplêndido visto ontem, sobretudo para se ter contato com a ótima regência de Karajan, coloco, antes do "Segundo Movimento", um "trailer" do vídeo da apresentação assistida por mim, arquivado no site da Berliner Philharmoniker. Não saberia dizer se a data do primeiro vídeo é a data da primeira apresentação da sinfonia por Karajan e a orquestra de Berlim, intuo que sim. Em todo caso, independente das datas, aqui deixo a oportunidade de contato com uma das mais belas sinfonias e regência de todos os tempos, "Do Novo Mundo", de Antonín Dvořák, com Hebert von Karajan.






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