domingo, 12 de maio de 2013

Um grito entre os silentes




O Grito.  Edvard  Munch, 1893.


Fui aceitando as humilhações e as deixei penetrarem em mim.
É absolutamente terrível ser um fracasso.
As pessoas pensam que têm o direito de lhe dizer o que fazer.
O desprezo das boas intenções delas.
Aquele breve desejo de atropelar alguma coisa viva.
[...]
Vivo sem o autorrespeito.
Eu sei - isso soa rídiculo, pretencioso!
A maioria das pessoas vivem sem um senso de autoestima.
Humilhadas de coração, asfixiadas e maltratadas.
Elas estão vivas e isso é tudo que sabem.
Sabem que não têm outra alternativa.
Mesmo que tenham, jamais estenderão a mão para isso.
Pode-se adoecer de humilhação?
Ou ela é a doença que todos temos que contrair?
Falamos muito de liberdade. 
Não será a liberdade um veneno para qualquer um que é humilhado?
Ou essa palavra é uma droga, que o humilhado usa até ser capaz de incorporá-la?
[...]
Já lhe ocorreu que quanto pior estão as pessoas, menos elas reclamam?
No final elas estão totalmente caladas.
São criaturas vivas, com nervos, olhos e mãos, grandes exércitos de vítimas do carrasco. 
A luz que aumenta e cai pesadamente.
O frio que chega.
A escuridão.
O calor. O cheiro.
Estão todas silentes! 


Trechos do monólogo de Andreas, 
personagem de A Paixão de Ana ("En Passion", Suécia, 1970), 
filme de Ingmar Bergman.

2 comentários:

Lívio disse...

Silêncio retumbante, Bruna.

Bruna Caixeta disse...

Lívio,

De poeta vem mesmo só versos.

Veja suas palavras, não só deram novo título para postagem, como a resumiu em uma frase; um verso. Muito obrigada por elas!

Abraços.