sábado, 6 de outubro de 2012

Tribalistas


  
   "Tríade, trinômio, trindade, trímero, triângulo, trio, trinca, três, terno, triplo, tríplice, tripé, tribo", Tribalistas: Arnaldo, Carlinhos e Marisa. 
    Os três amigos em encontro certa vez na Bahia, e depois na casa de Marisa (Rio de Janeiro), assim numa reunião caseira, "sem pressa e sem pressão", como consideraria Nelson Motta, deram nascimento a Tribalistas
   Amiga união de um fruto só, o álbum da tribo (como gostavam de se autonomearem) foi lançado no Brasil em 2002, depois de apenas treze dias - para completar mais um termo em 3 - de gravação. O CD, com treze canções, constitui-se numa da mais bela e valiosa obra artística da música popular brasileira. Afora as famosas "Velha Infância", "Já sei namorar" e "Carnavália", todas as lindas canções são marcadas pela concordância de letra, ritmos e percussões incomuns e delicadas.
   Deixo quatro das mais belas canções do grupo (de acordo com minha preferência), para, mais uma vez, e sempre, relembrarmos o trabalho bonito e precioso de Tribalistas
   Na sequência: "Carnalismo", "Mary Cristo", "Lá de Longe" e "O Amor é Feio".







   
   No site oficial de Tribalistas há uma entrevista que o Nelson Motta fez com a tríade. Nela, "Arnaldo, Carlinhos e Zé" contam um pouco de como surgiram as canções e o grupo. Leiam:

Entrevista com Tribalistas, por Nelson Motta:

Nelson - Aceitei com prazer o convite de vocês para uma conversa sobre ''Tribalistas'', primeiro porque me encantei com o que ouvi e depois pela forma como foi produzido. Desta forma caseira, sem pressa e sem pressão. E isso se reflete no resultado musical. Essa nossa conversa aqui é para informar com sinceridade tudo sobre o disco. Como é que começou isso tudo? Quem ligou para quem? Como surgiu a idéia?

Marisa - Não surgiu de cara como idéia de um disco. Eu fui gravar uma participação no disco que o Arnaldo estava fazendo, produzido pelo Brown, no ano passado. A gente ficou junto uma semana e, como sempre acontece quando a gente se encontra, fizemos um monte de músicas. E a gente não pensava em gravar um disco juntos naquele momento.

[...]

Nelson - É uma música urbana com muita informação rural.

Brown -O fato de existir um conjunto entre os tribalistas, que é a afinação total e química, traz para o pensamento de equipe a contribuição de um com outro... termina fazendo um novo artífice que não são os três e os três não fariam isso separadamente, o que fosse cada um. Isso é uma soma dos três, que é um... que é o tribalista. Mas Marisa foi além. Ela foi além porque terminou se liderando também, ela como produtora. Ela terminou se liderando, terminou também fazendo uma coisa que talvez seja difícil pela total personalidade do que é o trabalho dela ou do que seja o trabalho dos três aqui. Aceitamos Marisa como a coordenadora de tudo, como a produtora de todas as coisas. Então a ouvimos muito e o fato de ela ter nos acolhido em sua casa... Então essa coisa do que eu falo do interior vinha nos biscoitos, é um sabor, vinha no pão de queijo, nos bolos, na comida, vinha no contato com o cão...

Nelson - É um disco... literalmente caseiro.

Arnaldo - A gente nunca tinha se reunido para compor um volume tão grande de canções em poucos dias, como aconteceu em Salvador. Agora, de alguma forma, há muitos anos já que a gente vem compondo coisas, ou eu e Carlinhos, ou eu e Marisa, ou Carlinhos e Marisa, ou nós três juntos. Isso vem acontecendo com uma certa freqüência, apesar da gente viver em cidades diferentes. E eu acho que existe aí uma questão de afinidade de linguagem mesmo, que é rara. Eu componho com muita gente, tenho muitos parceiros. E com ninguém é tão fluente. Na verdade só com os Titãs, na época em que eu estava na banda, eu acho que era assim fácil... como ainda é compor com eles hoje em dia, apesar de muito menos freqüente.

Nelson - Nesse momento aí, quando vocês se encontraram e começaram a compor na Bahia, quais foram as primeiras músicas?

Marisa - A gente não se encontrou para compor um disco. Eu fui gravar com o Arnaldo, aí sabia que ia ficar uns dias com ele, busquei umas coisas aqui, ele tinha umas coisas pensadas lá, e naturalmente quando a gente se encontra, os três juntos, essas músicas começaram a ser feitas, a serem concluídas.

Nelson - Tem algum método, ou cada uma é de um jeito?

Arnaldo - Às vezes a gente parte de uma melodia que alguém já traz, um dos três, às vezes um pedaço de letra, e às vezes começa a fazer assim do nada mesmo.

Marisa - Às vezes uma coisa que eu e o Brown tínhamos começado, a gente termina com o Arnaldo, às vezes uma coisa que eu trouxe antiga, às vezes uma coisa que eles tinham começado e que eu faço algum detalhe. A gente quando viu tinha concluído em uma semana, quase, sei lá, 18, 20 músicas. Algumas inacabadas, algumas que a gente deixou de fora, e outras que a gente ficou cantando a semana inteira, toda noite, uma atrás da outra e cada noite a gente fazia mais duas e cantava as de ontem... No final a gente tinha essas músicas.

Arnaldo - Tinha dias que passava a noite. Um dia clareando, na casa do Brown, a gente fez ''Lá de Longe''.

Brown - É bem dia clareando. Mas aconteceu... todos os detalhes, chuvas e pratas e tudo que teve. Chuva nas piaçabas com beira-mar. A presença da natureza foi uma coisa muito gentil também a nosso favor. Acho que esse trio tem uma coisa de percepção que está nos três, há nele vários símbolos, como o triângulo Rio, São Paulo, Bahia…

Marisa - Engraçado, eu via os Titãs compondo assim quando eu convivia com eles. Saíam pra estrada, faziam duas músicas por dia dentro do ônibus.

Arnaldo - Com muita facilidade. Agora, com o Brown e a Marisa, enquanto a gente foi compondo, chegou uma hora que tinha tanta música que a gente falou ... a gente tem que gravar isso!

Marisa - Isso não era um projeto, era um sonho, um desejo para cada um de nós. Quando sai da Bahia tínhamos esse repertório que podia ser gravado por nós três juntos, e podia também não ser, e não tínhamos prazo, não tínhamos data, não tínhamos nada acertado. Era assim, Arnaldo ia lançar um disco, o Brown estava fazendo o dele ... eu estava terminando minha turnê. Era assim, vamos ver se mais pra frente, uma hora a gente se encontra e grava junto … seria lindo…

Arnaldo - É, a gente não compôs para um projeto de um disco. O projeto aconteceu.

Marisa - E a gente ficou um ano lapidando, germinando assim a idéia. Gravamos exatamente um ano depois daquela semana que eu passei na Bahia.

Arnaldo - Na verdade a gente saiu com uma questão assim, o que fazer com esse repertório, pode ser que a gente venha a fazer esse disco ou não. Não era uma coisa muito certa.

Nelson - E qual o momento da decisão de fazer?

Marisa - O momento foi de repente porque como o repertório estava pronto para ser gravado, porque eu acho que o repertório é como roteiro para cinema, é onde você vai estruturar todo o resto. E esse repertório estava pronto, a gente tinha de sobra. Aí a gente decidiu e uma semana ou duas depois entramos no estúdio e gravamos. Esse disco foi feito com dois dias de ensaio e treze dias de gravação.

Nelson - E desde o início teve esse conceito de que seria um disco praticamente acústico, quase sem baixo, com essa sonoridade bem diferentona dos padrões do pop atual?

Marisa - O conceito foi discutido entre a gente mais baseado na experiência prévia que a gente tinha e nas coisas que eu acho que eram mais bem-sucedidas que a gente tinha feito, as coisas mais gestuais, feitas num gesto, e que são as músicas que eu gravei com o Brown, o Magamalabares, Arrepio, ele veio pro estúdio em Nova York e a gente gravou cada música em um dia.

Arnaldo - Tudo começou a partir dos violões, os arranjos surgiram da gente tocando e cantando as canções ali na hora da composição. E a gente pensava, já tá legal assim. Não é muito longe disso que tem que ser o disco. Então foi isso que orientou a criação dos arranjos, a gente deixou que eles brotassem a partir do princípio das composições, que eram as vozes e os violões.  

Fonte: http://www2.uol.com.br/tribalistas/home.htm

2 comentários:

Anônimo disse...

Bruninha: eu me lembro quando este cd foi lançado, lice estava entrndo na adolescência e eu comprei este cd porque me remete tanto a esta fase! Tenho um exemplar que fica no carro. vira e mexe tá no player !
Abração e saudades muitas, tantas!
Chris

Bruna Caixeta disse...

Oi, Chris!
Saudade de você, minha amiga! Sumiu. Espero que esteja bem.

Sobre os "Tribalistas", me lembro que quando lançaram o disco, também, como a Alice, entrava na adolescência (tinha de 12 para treze anos). Nesta época, quando ouvi-os, não me interessei pelo som. O motivo? Estava numa fase que só gostava de ouvir "paulera"... [Risos].

Que bom que ainda os ouve. É uma delícia.

Um grande abraço.