sábado, 1 de dezembro de 2012

O "The World Tomorrow" com Criptopunks e Ciberativistas

    À semelhança do repositório de informações (enciclopédicas) que é a Wikipédia, o Wikileaks se propõe a ser um repositório de documentos vazados que alegam má conduta de governos e/ou de corporações. Fundado por Julian Assange, o site, que estreou basicamente tornando públicas informações privadas do estado norte-americano, cada vez mais se expande, publicando informações sigilosas de outros países, como, por exemplo, da Síria (documentos expostos no site desde 5 de julho de 2012) e Tunísia. 
    Para alguns jornalistas e comentadores do que já se nomeia "fenômeno Wikileaks", o arquivo até teria catalisado movimentos de derrocada de regimes políticos no Oriente Médio, tais como o de Ben Ali, na Tunísia. O próprio Gaddafi, ditador libanês, assegurou que algumas das revelações do Wikileaks causaram a queda de Ben Ali - e talvez o incômodo do povo ao seu próprio governo ditatorial. 
    Particularmente, creio que o Wikileaks tenha influenciado a deflagração de alguns eventos da Primavera Árabe, no entanto, acredito que nada supera o gesto, no mínimo ousado, do jovem tunisiano Mohamed Bouaziz em protesto contra a apreensão pela polícia de sua barraca de venda de frutas, em 17 de dezembro do ano passado. Bouaziz ateou fogo no próprio corpo, se autoconferindo suicídio.  O ato, sem dúvidas, foi o estopim para a renúncia de Ben Ali, após ter estado despoticamente 23 anos no poder. 
    Ainda que nesse sentido tenha eu subestimado um pouco a influência do Wikileaks na onda de derrocadas dos regimes ditatorias árabes, é de se valorizar a iniciativa corajosa de Assange em revelar documentos ou conversas sigilosas e privadas, mas que, no entanto, são de interesse e responsabilidade social, coletiva. Nesse sentido, a ideia de Julian de aliança ao RT, canal russo, para transmitir uma série de 12 programas em que debate com os mais variados convidados questões ligadas à política dos EUA, do Oriente Médio e outras mais ligadas à liberdade de expressão, à censura e os poderes centralizadores no âmbito da internet, por políticos e detentores de poder, é valiosa e importante, entre outras razões, para conhecermos as formas de controle e rastreamento existentes na nossa movimentação virtual. A série, de nome The World Tomorrow, pretende, como traz sintetizado no título e explicado no site do programa, trazer para um debate convidados "who are stamping their mark on the future: politicians, revolutionaries, intellectuals, artists and visionaries".
    No Brasil (atualizado toda quarta-feira e divulgado também pelo Estadão), na sua nona edição, The World Tomorrow, que já contou com a participação de ativistas e políticos importantes para a atual conjuntura da revolução política árabe, como Nasrallah e Alaa-Nabeel, traz a participação de criptopunks, "hackers" que fazem o mesmo trabalho de Assange, isto é, trabalham na contramão dos funcionários de governos, tentando impedir o domínio, controle e sigilo absolutos das mais variadas informações por parte desses agentes de governos. Tratando questões relevantes, os criptopunks, nesta segunda parte do debate, discutem sobre a liberdade na internet e lançam algumas luzes sobre a guerra virtual entre o compartilhamento livre e o roubo, o poder dos governos em intervir versus a liberdade de expressão – e as consequências dessa batalha. 
    Apontamentos reveladores são feitos pelos quatro ciberativistas, convenientemente de nacionalidades distintas, Julian Assange, da Austrália, Jacob Appelbaum, dos EUA, Andy Müller-Maguhn, da Alemanha e Jeremie Zimmerman, da França. O diálogo, que acaba por se tornar tenso entre esses participantes, pela natural controvérsia que nasce de polêmicos assuntos expostos por visões culturais distintas, é um convite à reflexão sobre as políticas de controle virtual instituídas à todas as pessoas que acessam a internet e deixam seus dados gravados na rede, ou seja, a nós. Confira-o logo abaixo:



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