Não será esse amor, fiel, sublime e eterno,
A força portentosa e única da vida,
Do íntimo do peito a aflorar dolorida?
FAUSTO
Já o sinto puro e terno.
[...]
A esse fogo intenso em que tanto me inflamo
De Infinito, de Eterno e Sempiterno chamo.
[...]
NO JARDIM
(Fausto conduz Margarida pelo braço. Mefistófoles e Marta passeiam em sentido contrário).
MARGARIDA
Percebo muito bem, o senhor procurar-me,
Com todo esse cuidado a fim de não humilhar-me.
É homem tão viajado, está habituado
A usar de bondade e a ser bem delicado.
Já sei que a uma pessoa assim experiente
Minha pobre conversa em nada é atraente.
FAUSTO
Uma palavra tua, um olhar com tal inocência
Tem muito mais valor, no mundo, que a ciência.
[...]
(Passam andando.)
FAUSTO
Não me reconheceste, oh meu anjo querido,
Quando entrei no jardim, aflito e comovido?
MARGARIDA
Não viste? é que baixei os olhos com pudor.
FAUSTO
Perdoaste a liberdade, a audácia, o destemor,
Que tive, na saída, há dias, da igreja?
MARGARIDA
Fiquei em confusão, não estou habituada.
De mal ninguém dirá, de mim, o que quer que seja.
Ah! depressa pensei, viu ele em tua conduta
Algo de provocante ou pouco recatada?
Pareceu-me investir, com alma resoluta
E com a moça falar e logo acompanhá-la.
Confesso todavia! Não sei como explicá-la,
Uma coisa me fez julgá-lo com ternura.
Comigo me zanguei - e o digo com franqueza -
Por não poder fazer-lhe uma indelicadeza.
FAUSTO
Querida, como és pura!
[...]
MARGARIDA (aperta-lhe as mãos, larga-as em seguida, e corre; ele vacila um momento, depois a segue.)
MARTA (aproxima-se)
Nele, o amor é profundo.
MEFISTÓFOLES
Sim. E nela também. Assim prossegue o mundo.
GOETHE, Johann Wolfgang von. Fausto. Trad. Sílvio Meira. São Paulo: Abril Cultural, 1983, pp.156-165.
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