domingo, 20 de novembro de 2011

Krishnamurti: sobre a consciência individual


Jiddu Krishnamurti (1895-1986) foi um filósofo indiano. Desde os treze anos de idade foi educado pela Sociedade Teosófica, que logo o considerou o "Instrutor do Mundo". Rejeitando cedo esse encargo messiânico e, mais tarde, abandonando a teosofia, Krishnamurti orientou-se por sua própria forma de ver o mundo e a passou a divulgar através de livros e palestras. 

A sua concepção de mundo é não aceitar qualquer forma de pensamento condicionado, seja pelas correntes religiosas e filosóficas, seja pelas demais organizações sociais. Defendia ele que todo pensamento é limitado, portanto, incapaz de se transformar num sistema único  para  se viver a vida. Seria tarefa do homem procurar ver as coisas por ele mesmo, sem se deixar turvar por ideias condicionadas por um só pensamento ou também por ideias pré-estabelecidas. Acreditava que somente através desta orientação autêntica e extremamente pessoal, os homens conseguiriam se verem livres do medo da espiritualidade, do medo do amor, do medo da morte e da própria vida - os quais surgem, por estarem imbuídos pelas formas de pensamento humano condicionadas milenarmente. 

Krishnamurti entendia que o homem teria a tão sonhada liberdade quando procedesse segundo princípios próprios, pois assim estaria às vias de compreender que a rede de conflitos na qual se envolve não se dá por outra maneira que a submissão às receitas de viver instituídas antes e durante a formação humana. O filósofo afirmava ainda, que somente através desse desenvolvimento da consciência individual, o mundo experimentaria mudanças. Nas palavras dele: "Podemos ir longe, se começarmos de muito perto. Em geral começamos pelo mais distante, o 'supremo princípio', 'o maior ideal', e ficamos perdidos em algum sonho vago do pensamento imaginativo. Mas quando partimos de muito perto, do mais perto, que é nós, então o mundo inteiro está aberto — pois nós somos o mundo. Temos de começar pelo que é real, pelo que está a acontecer agora, e o agora é sem tempo". 

Em 1981, Krishnamurti concedeu entrevista para Bernard Levin. Nela, o filósofo procurou elucidar melhor a sua filosofia. Apesar de lançar uma afirmação taxativa e não digna de confiança no início do diálogo, a: "eu nunca tive conflitos", depois dos 7 minutos e meio de conversa a entrevista toca em questões instigantes, próprias às especulações existenciais, as quais fornecem matéria para as reflexões curiosas de Krishnamurti. O que mais gosto da filosofia dele é a proposta de reflexões sobre o desenvolvimento da consciência pessoal pela exclusiva ação individual e também do desvínculo aos pensamentos condicionados. 

Ver as coisas como elas nos apresentam e não como nos contam (através dos pensamentos e cogitações metafísicas, filosóficas, religiosas, etc.) muitas vezes erroneamente como são, é também concepção expressa por Alberto Caeiro, um dos heterônimos do Fernando Pessoa. Já dizia Caeiro: 

"Creio no mundo como um malmequer, 
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O mundo não se faz para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo. 

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... " 
(CAEIRO, Alberto. Poemas Completos de Alberto Caeiro. São Paulo: Martin Claret, 2009, p. 24).

À diferença de Krishnamurti, entretanto, sabemos que Caeiro não cria que houvesse algo sagrado. Krishnamurti tomava como sagrado aquilo que de mais genuíno havia na visão do homem. 

Finalmente, a entrevista com Juddi Krishnamurti.




7 comentários:

Bruna Caixeta disse...

Esta postagem é dedicada à minha mãe, Márcia, quem um dia me apresentou Krishnamurti, através desta entrevista.

Mãe, muito obrigada por sempre me apresentar pensadores interessantes e também me mostrar reflexões importantes. Sem dúvidas, a minha iniciação em assuntos de natureza filosófico-religiosa se deve também, até em grande parte, a você. Muito obrigada.

Um abração de filha com saudade.

Anônimo disse...

Bruna,
Que coincidência! Um dia desses estive conferindo a entrevista de Krishnamurti a Bernard Levin no youtube, por indicação de uma amiga (não, não foi sua mãe). Gostei muito, porque, na verdade, li apenas um livro dele, mas muitos anos atrás - numa época em que ainda não tinha internet. Depois esqueci o livro, esqueci Krishnamurti, e hoje volto a revê-lo, agora com toda a tecnologia de que dispomos. Gostei de conhecê-lo, de ver sua imagem, de ouvir sua voz. Foi uma redescoberta muito curiosa. Parabéns pela postagem. E que feliz coincidência.
Abraço do amigo
Luís André

Bruna Caixeta disse...

Oi, Luís!

Uma feliz coincidência mesmo ambos termos contato com esta entrevista. Gosto muito do que o Krishnamurti defende como opinião de vida e também acho bastante pertinentes e oportunas as perguntas do Bernard Levin. Em suma, um grande e contundente diálogo.

Obrigada pela sua visita.
Um abraço.

Danyelle disse...

Bruna...que delícia de espaço...ja coloquei em "favoritos" pra acompanhar sempre...Super obrigada pelos dias que passamos juntas, você é um encanto de pessoa e vai se sair muito bem com "BB"...Você é uma pessoa que nasceu para brilhar...então: brilheeeeeeee...Te adoro

Bruna Caixeta disse...

Oi, Dany!

Maravilha você por aqui! Venha sempre! Desde já, és muito bem-vinda, "le crème de la crème" [Risos]!

E eu quem agradeço pelos nossos dias de muito trabalho, mas também de muitas diversões. Muito bom!

E sucesso para você também. Não deixe de continuar a me contar sobre o Godofredo Rangel e a sua pesquisa.

Um grande abraço.

Márcia disse...

Oi filha,
Como disse o Luis André, pra mim também foi uma redescoberta e adorei ouví-lo, conhecer sua voz, sua maneira de expressar as idéias. Tão franco e amoroso ao mesmo tempo.
E voltanto na redescoberta, tenho pensado que tudo que encontra ressonância em nosso íntimo, na verdade é uma redescoberta de algo que já possuímos e não tínhamos nos dado conta.
Um grande abraço cheio de saudades!
Mamãe

Bruna Caixeta disse...

Mãe,

Gosto da sua colocação, platônica, referente à reminiscência da alma. Como acreditava Platão (Sócrates?!) e também Hermes Trismegisto, e.g., só a alma é capaz de compreender a manifestação e a essência das coisas - as quais, para o(s) sábio(s) grego(s), já se encontrariam potencializadas em nós.

Para meu entendimento, compreender a essência das coisas à maneira de Platão, não é nada a mais que compreender as coisas como elas simples e naturalmente são, o que é, sem diferença, o proposto por Krishnamurti.

Obrigada pela sua visita.
Um abraço.