quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Uma noite em 67


Uma noite em 67 (2010) é um documentário sobre o encerramento do III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, ocorrida no dia 21 de outubro de 1967. Além de trazer os lendários shows dos então jovens Caetano Veloso, cantando "Alegria, Alegria", Chico Buarque de Holanda e o MPB4, "Roda Viva", Gilberto Gil e Os Mutantes, "Domingo no Parque", Roberto Carlos, "Maria, carnaval e cinzas",  Sérgio Ricardo, "Beto bom de bola", "Edu Lobo com Marília Medalha, cantando "Ponteio", alterna às apresentações musicais, depoimentos atuais dos músicos e outras personalidades que estiveram no Festival, como o engraçado Nelson Motta.

O documentário é divertido e acaba sendo muitas vezes engraçado. O que mais contribui para isso são os entrevistadores do Festival e as suas perguntas ou comentários prosaicos. Cidinha, uma das entrevistadoras, por exemplo, discorre sobre a moda de dar nomes de legumes para cores ao falar do próprio vestido (verde-chuchu) e reparar na cor da camisa de Roberto Carlos. Já outras falas e casos dos depoimentos também rendem boas risadas. O realizador do evento, Solano Ribeiro, lembra que na hora da apresentação do Chico Buarque, ele não encontrava o músico. Desesperado, saiu pelas ruas para procurá-lo. Solano achou Chico num botequim de esquina, todo despreocupado...

Chama atenção no filme, a presença do público no Festival. Como disse Sérgio Ricardo, "o público já era um personagem do evento. Já tinha seu papel. Eles queriam participar como os músicos." Em algumas apresentações musicais, ou melhor, na maioria delas, as vaias e os aplausos atrapalhavam o show dos cantores. Na apresentação do próprio Sérgio Ricardo, que ficou inesquecível pela polêmica, as vaias foram tão intensas, que ele não conseguiu terminar o show. Intolerante com a reação do público, quebrou o seu violão e o arremessou na plateia. 

O documentário, além de ser divertido, mostrar a maneira da presença do público na década de 60, conta ainda com falas interessantes sobre os festivais, que hoje, mais que simples eventos de televisão, têm importância histórica e política não só para a história da música, como também para a do país. Como disse Caetano, ir se apresentar no Festival também significava assumir uma atitude política - ainda que muitos não declarassem esta opção. A busca de alguns músicos por apresentar canções com arranjos musicais emprestados ou inspirados nos acordes do pop e rock inglês e norte-americano, sobretudo, era um convite à inovação da MPB - e que  entusiasmaria o surgimento do Tropicalismo -, mas também, simultaneamente, uma recusa a todos os padrões de um país reprimido pela ditadura. 

Muito bem editado e organizado, acho que os diretores Renato Terra e Ricardo Calil fizeram um documento histórico (não pouco divertido) imprescindível. Coloco, abaixo, o trailer oficial dele. 


4 comentários:

Lívio disse...

Mais uma bela indicação, Bruna.

Obrigado.

Bruna Caixeta disse...

Eu quem agradeço, Lívio. Bom saber que você gostou de mais essa.

Um abraço.

Christiane Rocha disse...

Oi Bruna!
Já estou com saudades de tu,mocinha.Acho que a "ditabranda" só serviu pra produzir artistas de alto quilate e melhores representantes da nossa cultura musical.E só isso, mais nada!Creio que as reações da plateia se devem ao momento político, no qual as pessoas(cabeças pensantes, que não vemos tanto hoje em dia) se sentiam "entornando" com as questões políticas vigentes.
É isso aí, Bruninha, como sempre mostrando seu bom gosto!
Abraços,
Chris.
ps: será que daqui a alguns anos irão produzir um doc do Fiuk, ou do Restart,ou quem sabe do...Tomate(quem???rsrsrs)

Bruna Caixeta disse...

Ei, Chris, saudações!

Esse pessoal representa mesmo muito bem a nossa cultura musical. E é sempre uma delícia ouvi-los e vê-los. Saber que reuniram esforços (e meios) para enriquecer a MPB e pensar a situação social geral do país daquela época, é um conforto e um orgulho.

Sobre a plateia, tem um pouco disso mesmo que você falou. O público reagia com mais fervor às manifestações políticas e artísticas. Mas, sei lá, tem muito de desrespeito (sem uma causa) ali nos momentos de aplausos em horas inapropriadas.

Quanto à possibilidade dos futuros documentários com Fiuk ou Restart, torço para que se vierem, pelo menos me convençam do valor, seja social ou histórico, das músicas deles.

Valeu pela presença, Chris.

Abraços. E eu também estou de cá já com saudades.

Até.