quinta-feira, 31 de março de 2011

Espetáculo Teatral "Ligações Perigosas"



No último sábado, assisti à peça Ligações Perigosas, no Teatro Amil, situado no shopping Parque D. Pedro, em Campinas. O espaço, que anteriormente abrigava o Teatro Tim, foi reinaugurado agora, no dia 18 de março, com este magistral espetáculo adaptado do famoso romance homônimo de Choderlos de Laclos.

A peça foi muito bem montada, tendo-se em observação todos os principais aspectos teatrais: direção, adaptação de roteiro, atuação, cenário, figurino, iluminação e trilha sonora. Assim sendo, o enredo (tanto do livro, como da adaptação para peça), que faz um retrato dos piores jogos de sedução maliciosos que alguns dos membros da aristocracia decadente francesa do século XVIII praticavam em busca de vaidades cortesãs ou individuais, ou, numa leitura menos contextualizada historicamente, que faz um retrato preciso dos limites a que chega a crueldade humana, é bem representado pela seleção de diálogos irônicos e espirituosos trocados, sobretudo, pelos sádicos visconde de Valmont (Marat Descartes) e marquesa de Merteuil (Maria Fernanda Cândido).  

Semelhante ao ponto forte do romance, o diretor, bem como os demais responsáveis pela adaptação das falas da peça, deixaram que a comicidade e as precisões matemáticas advindas das intrigas, de certa forma, atenuassem o rancor do público para com os maliciosos personagens. O que chega ao ponto de até mesmo os horrores que poderiam ser considerados absurdos como, por exemplo, a perda da virgindade forçada, que acontece com a jovem Cécile (vivida por Laura Neiva, no seu primeiro papel) e a também forçada submissão de uma moça íntegra e pura (madame de Tourvel; por Sabrina Greve) aos perniciosos truques de Valmont, fossem deixados para uma segunda ou terceira discussão. Portanto, focar a crueldade humana, e muito, o prazer pelo sofrimento alheio, numa espécie de sadismo, e ainda focar o despropósito moral dos personagens foi, se não o objetivo dos diretores Mauro Baptista Vedia e Ricardo Rizzo, um dos percursos bem-sucedidos da atração teatral.

Como o que se deve avaliar numa peça que vem a ser a encenação de uma grande obra, como é Les Liaisons Dangereuses (1792), também é a sua capacidade criativa de dar novas aparências ao enredo, na sua execução e compreensão, afirmo que uma das novidades que mais me agradou nessa adaptação teatral, em meio ainda a tantas excelentes versões cinematográficas, foi a escolha da trilha sonora (parabéns Tunica!). Talvez pode soar como um detalhe, mas é que as canções muito bem selecionadas de Led Zeppelin e Emerson, Lake and Palmer, fizeram da peça, claro, em conjunto com a excelência dos demais aspectos teatrais, um sucesso.

E eu gostei tanto das músicas, especialmente de uma, que ainda não conhecia e que nem mesmo desconfiei que fosse de Emerson, Lake and Palmer, a C’est la vie, que fui vencida pela vontade de ouvi-la novamente. Repito: como não sabia nem o nome da música, nem quem a cantava, depois de muitas frustradas pesquisas pela internet, resolvi enviar um e-mail para o Mauro Baptista, diretor do espetáculo, e ele, muito gentilmente, me concedeu essa informação. Então, fica o meu agradecimento especial a Mauro, pela gentileza.

Talvez vocês também gostem da canção C’est la vie, do Emerson, Lake and Palmer. Coloquei-a abaixo, acompanhada pela letra. Antes, disponibilizo a ficha técnica completa do espetáculo.

Ficha técnica:
Autor: Christopher Hampton
Direção: Mauro Baptista Vedia
Produção: Filmland Internacional
Produtor: LG Tubaldini Jr
Direção de Produção: Marcella Guttmann
Tradução/adaptação: Clara Carvalho e Rachel Ripani
Elenco: Maria Fernanda Cândido, Camila Czerkes, Chris Couto, Clara Carvalho, Ivan Capua, Julio Cesar Machado, Laura Neiva, Marat Descartes, Ricardo Monastero, Sabrina Greve.

Cenários: Guta Carvalho / Frank Dezeuxis
Figurinos: Maria Gonzaga
Iluminação: Maneco Quinderé
Trilha sonora: Tunica
Preparaçâo vocal: Madalena Bernardes
Preparação corporal: Ricardo Rizzo


P.S.: Pessoal, achei um vídeo através do qual é possível ver algumas poucas e rápidas cenas da peça, bem como ver uma entrevista com as atrizes Laura Neiva e Maria Fernanda Cândido e o diretor Mauro Baptista Vedia. O vídeo é parte do programa Metrópolis, exibido pelo canal Cultura. Segue abaixo:


13 comentários:

Lívio disse...

Bruna, sou grande entusiasta e divulgador do livro de Laclos. Em meu blogue, já escrevi sobre o livro e sobre filme baseado nele. Laclos foi brilhante.

Muito bom você nos informar sobre peça baseada nesse magistral romance.

Márcia disse...

Bruna,
Eu também acho esta música linda. Foi uma música que eu curti muito na minha infância e adolescencia e adorei me relembrar dela. São muitas coisas belas que vão caindo no esquecimento, obrigada pelo prazer que me proporcionou.
Um beijo
Mamãe

Bruna Caixeta disse...

Lívio,
eu lembro de ter lido o seu texto e também de um dia você ter dito em sala de aula que gostava muito de "Ligações Perigosas".
Bom, mas, irei ao seu blog ler o texto novamente, pois já faz muito tempo que o conferi.

Muito obrigada pela divulgação.

Até.
____________

Mãe,

que bacana ter feito você relembrar uma música de que gosta.

Obrigada por ter vindo aqui.
Abraços fortes.

Bruna Caixeta disse...

Em tempo: Lívio, lendo sua análise, tanto da obra quanto das versões cinematográficas do filme, tive minha visão sobre o enredo alargada. E uma palavra-chave que você destaca e que considero forte em qualquer versão da trama é o cinismo.
Ler seus textos deixaram este meu "post" sobre o "Ligações Perigosas", sobretudo quando rapidamente falo do conteúdo do enredo, muito pobre.

Por estas e outras que o admiro.

Um mega abraço.

Lívio disse...

Bruna, sua postagem não é pobre.

Abraço.

Ismael disse...

Demais, Bruninha. Anotei aqui mais uma leitura a ser feita. Assisti ao video sobre a peça e coincidentemente vi há uns poucos dias o filme "À deriva" protagonizado pela adolescente Laura Neiva. Ela me chamou muito a atenção por interpretar muito bem junto com o Vincent Cassel(o diretor taradão de "Cisne Negro"). Imagino que ela tenha ido bem na peça também.
Abraço,
I.

Bruna Caixeta disse...

I. !

A Laura Neiva fez muito bem o papel da jovenzinha ingênua sendo "atacada" pelo malicioso Valmont, bem como, depois, a faceta transformada e já acostumada aos arroubos do cortesão.

Também pela atuação dela, fiquei com vontade de assistir ao "À deriva". Nem sabia que o Vincent Cassel estava neste filme. Bacana, também o achei ótimo ator.
Agora fica a minha vez de colocar na lista este filme.

I., bom demais ter a sua presença.

Abraços saudosos. Até.

Nélio Lobo disse...

Bruna, alentadora a notícia dessa (re)inauguração no shopping. Bom saber que os espaços culturais nesses centros de consumo não se restringem às salas de cinema. Abraço e parabéns por mais esta bela resenha.

Ana Amélia disse...

Bruninha!!

Que legal que vc conseguiu a música! Eu não conhecia, mas gostei muito! O vídeo da reportagem do Metrópolis é muito legal.. e vc tinha razão.. o figurino é liiiiindo! *-* Adorei o post. Parabéns! Bjs,

Anita! :)

Anônimo disse...

Oi mocinha:
bacana (e um privilégio) ir ao teatro, né? Aproveite mesmo!
Vi somente o filme com John Malcovich e Glen Close e gostei muito.
Gente vaidosa dá "bandeira" de que não passa de um(a) recalcado(a).Não me assusta, mas me dá...preguiça(rs).
abraços
Chris
ps:vi sua msg no meu end do yahoo-obrigada!Muito linda!

Bruna Caixeta disse...

Manoel!
É sempre uma felicidade receber um comentário seu.
Pois é, também me chamou atenção o fato de que o teatro se localizava no shopping. Até então, para mim, pareciam dois espaços que não se encontravam. Mas, como disse uma amiga, tudo hoje que você precisa -e não precisa, especialmente - está no shopping das grandes cidades, pois a maioria das pessoas, na agitação do dia-a-dia, quer resolver tudo num lugar só, até o que se refere ao contato com a cultura. Com essa história toda, eu ficaria contente se mais teatros fossem anexados nos shoppings.
Para quem gosta de negócio, acho este um grande. As sessões, guardadas as devidas proporções em comparação com o cinema, até que são procuradas.

Quanto à resenha, obrigada pelo elogio. Generosidade de sua parte.

"Forte abraço".

Bruna Caixeta disse...

Anita,

bom saber que a música também te agradou! O Emerson, Lake and Palmer tem ainda duas famosas e maravilhosas músicas das quais gosto muito, são "Lucky man" e "From the begining", vale a pena serem ouvidas.

Thank u for come!
XOXO

Bruna Caixeta disse...

Chris,

tarde, mas chegou seu comentário! Desculpa-me por este transtorno. Não sei o que aconteceu aqui que não o mostrou no dia.

Eu também assisti ao filme com o Malcovich e a Glen Close. Acho que atuação dos dois me agradou mais do que o desenrolar total do filme.

E, legal saber que a mensagem chegou e que você gostou.

Abraços.