sexta-feira, 8 de julho de 2011

Fragmentos (5)

Só que há o problema, o que não há é a solução. Logo, está solucionado. 
- E qual é o problema?
- O problema é o terror.
[...]
-Me lembrei de uma coisa inventada por Salvador Dali - A Coisa era um pão. Sairia no jornal com manchete assim: "O Inevitável Aconteceu - A Descoberta do Pão". Um pão monumental, exatamente igual a um pão-francês comum. A diferença estaria no tamanho: mediria dois metros de comprimento. O pão era encontrado na rua, levariam para a polícia. Estará envenenado? Conterá explosivo? Propaganda política? Os comunistas, o pão-para-todos? Anúncio de padaria? Os jornais comentavam e discutiam o que fazer do pão. Era só o assunto ir esfriando, e um pão maior ainda, de cinco metros, amanhecia atravessando no Viaduto. Toda a cidade empolgada com o mistério, a polícia desorientada, o pão analisado nos laboratórios. E continuava o problema: que fazer com ele? Para despistar, um de nós escrevia um artigo sugerindo que fosse cortado em milhares de pedaços e doado à Casa do Pequeno Jornaleiro. No Rio, em São Paulo, Recife, Porto Alegre começavam a aparecer pães, cada vez maiores, nos lugares públicos. Eram os membros de uma sociedade secreta já fundada, a Sociedade do Pão, que começavam a trabalhar. E um dia surgiria outro pão gigantesco em Roma, outro em Londres, outro em Nova Iorque. A humanidade deixaria de se preocupar com seus problemas, as guerras seriam esquecidas, até que resolvessem o mistério do pão. Era a vitória pelo Terror.


SABINO, Fernando. O Encontro Marcado. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1956, pp.64-65.

4 comentários:

Ana Amélia disse...

O pão tem sido símbolo de muita coisa boa no decorrer da história da humanidade. Ver seu "simbolismo" (se é que posso falar assim) nos provocando, nós, seres da contemporaneidade, hehe é bem legal! Gosti! hehe..

Bjss Bruninha!

Bruna Caixeta disse...

Anita,

o pão aqui é só um elemento que simboliza os "espetáculos" que muitas vezes são criados para silenciar problemas mais sérios. É uma vitória pelo terror (como diz a última frase do fragmento).

Essas distrações são comumente aproveitadas pelos políticos em parceria com a mídia a fim de cegar a população para muitas coisas que acontecem debaixo dos panos. Elas podem ser feitas pelo terror ou... na promoção de uma Copa do Mundo...

É isso.
Abraço.

Ana Amélia disse...

Sábia refelxão Bruninha. Obrigada pelos esclarescimentos!

Bjão!

Bruna Caixeta disse...

Não sei se é muito bem por aí que o fragmento segue não, Anita, mas que fique levantada a questão debatida.

Um abração.