quinta-feira, 5 de maio de 2011

Circo Amarillo



Hoje, em uma das ruas da Unicamp, aconteceu a belíssima apresentação circense "Experimento", do Circo Amarillo. Com apenas quatro integrantes, o espetáculo, próprio para apresentações de rua, ou seja,  somente com os instrumentos e objetos essencias para os números, contou com malabarismos, danças, equilibrismos, músicas refinadíssimas e muita conversa engraçada entre os artistas e o público. A atração durou quase uma hora e meia, ficando o tempo dividido entre os risos e aplausos da plateia - pouco numerosa -, que estava presente.

O Circo tem uma trajetória que vem desde 1997 - como pude ver no site deles - e conta com números que valorizam a espontaneidade e o contato com o público, isso por meio das falas e ações que parecem não ter sido ensaiadas ou combinadas antes, além das frequentes conversas trocadas entre eles e os espectadores e, eventualmente, os transeuntes. Por esta proposta do quarteto, hoje, particularmente, acho que ficaram satisfeitos com um acontecimento que sucedia no campus no mesmo momento do espetáculo deles: havia um aglomerado de estudantes prontos para saírem em uma passeata de reivindicação de direitos. No início, achando os artistas que a reunião dos alunos tinha mais gente que as que estavam na rua e esperavam pela apresentação deles, resolveram se misturar com os manifestantes. O resultado foi um espetáculo à parte. Os palhaços pegaram os instrumentos de alguns dos alunos, como latas, alto-falantes e apitos, e romperam todo o clima sério e autoritário de reivindicações. O grupo de estudantes acabou tendo que abandonar um pouco dos semblantes sisudos e dar risadas. Isso foi um barato. Já no número ensaiado mesmo, chamou-me a atenção um tango de um casal dançado naquele suporte que tem um fio esticado - do qual não sei o nome-, porque além de ter tido toda aquela sensação de uma situação em limite, a interação do casal, com gestos faciais e corporais, estava muito bem amoldada.

Os amarillos, que são, creio, argentinos, contam com um figurino belo, uma mescla da vestimenta burlesca do "moulin rouge" com distintivos circenses. O espetáculo é acompanhado por belíssimas composições instrumentais, com misturas que eles mesmos acabam por fazer durante os números, com trompetes, sanfonas e cornetas, além dos barulhos obtidos por garrafas de plástico e tecidos. Tudo resulta numa grande e bonita apresentação e, o melhor, num circo que prova não precisar de maltratar animais para constituir-se como atração. 

Consegui achar, pela internet, apenas um vídeo do espetáculo "Experimento". Mas, neste vídeo, o figurino, os números e os próprios atores não são todos os mesmos. É uma filmagem mais antiga e que também não está em tão boa condição, mas, através dela, é possível escutar algumas das músicas e conhecer um pouco dos números, que, pela apresentação ao vivo, constatei estarem mais elaborados.  As circunstâncias vêm sempre mostrar quão alegre e válida são essas apresentações artísticas e quão necessária é a arte como algo que entremeia nossas sobrecarregadas preocupações e ações corriqueiras. Viva o Circo Amarillo e viva também toda forma de arte!

     
                                                                 


4 comentários:

Lívio disse...

Legal, Bruna.

E com que espírito terá o protesto programado sido feito?...

Bruna Caixeta disse...

Lívio,

com certeza, o protesto foi feito com aquele típico espírito de revolta, no qual tudo é menos alegre, é cheio de raiva e mágoas, o que, por comparação, se difere do espírito das apresentações circenses, pelo menos as que tem o mesmo propósito deste grupo.

No fim, vão achar as manifestações artísticas importantes e válidas, aqueles que buscam entremear as suas atividades e preocupações corriqueiras com a arte: por exemplo, boa parte dos espectadores que quis assistir à apresentação do "Circo Amarillo". Os demais seguem andando, e por eles talvez a arte seja procurada de vez em quando para uma cocegazinha.

No mais, a interrupção momentânea da revolta, feita pelos palhaços, teve mais valor para quem estava de fora da passeata.

Gostei muito da sua indagação, Lívio. Obrigada.

Abração.

Ana Amélia disse...

Bruninha!

Que saudades do teu blog! :) Vou aproveitar o final de um sábado hardworking para "ler você" um pouco, hehe. Gostei muito do post sobre o Circo Amarillo... o que significa "Amarillo"? Tem alguma tradução? Sabe, a Universidade é mesmo um lugar mágico... adoro como diferentes contatos são possíveis aqui: saberes, pesquisas, música, arte, reivindicações e renovações pelo riso e pela justiça.

Abraços querida.

Anita.

Bruna Caixeta disse...

Anita!

Que bom você de volta! Valeu por dividir seu sábado hardworking com o "Brumas".

A faculdade é mesmo espaço para diferentes acontecimentos, e os culturais, penso eu, preenchem a melhor parte. A apresentação do Circo Amarillo é um exemplo. Anita, quando vi o nome "amarillo" pensei em "amarelo", mas não sei se está valendo esta tradução. Bom, mas o que espero é poder ver mais espetáculos desses na faculdade (ou fora dela).

Um grande abraço.